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domingo, 21 de novembro de 2010

AS BARREIRAS INTELECTUAIS À FÉ CRISTÃ


Mauricio Montagnero


O texto de Dt 6.5 mostra que existem três formas de amar a Deus: Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças (negrito meu). Destacaremos nesse artigo a primeira forma que aparece no texto de amar a Deus, que é de todo o coração. Essa palavra no presente texto se encontra no hebraico como “bb'l{e/lebab” que vem de “bl{e/leb” que tem a conotação de “mente”, “conhecimento”, “razão”, “reflexão”, “memória” e “inteligência”, isto é, refere-se ao centro da vida intelectual. Diante disso, sabe-se que os individuos que professam a fé no cristianismo e o toma como a verdade absoluta, esses devem amar a Deus através de sua inteligência, com suas ferramentas intelectuais e com o seu entendimento. Com isso em mente vemos que em Rm 12.2 o povo de Deus é chamado para “sede transformados pela renovação do vosso entendimento (negrito meu)” que também pode ser traduzido como “compreensão” e “inteligência”.   Sendo assim, a pessoa que renova seu entendimento, sua compreensão e sua inteligência diante de Deus (isto é, pensando e julgando com habilidade as verdades espirituais), fundamentando-se na sua palavra, terá duas consequências positivas e de crescimento espiritual, que são: (1) Não se conformar com o presente tempo em que o mundo vive e (2) Experimentar a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.  O versículo anterior ordena que se apresente o corpo como sacrificio vivo, santo e agradável a Deus, que é apresentá-lO um culto racional. Essa palavra “racional” no texto vem de “logiko,j/logikos” que tem tais sentido: (1) pertencente à razão ou à lógica; (2) espiritual, que pertence à alma; e (3) que concorda com a razão, que segue a razão, razoável e lógico. Por conseguinte, vemos que a pessoa que busca ser espiritual deve ser uma pessoa que vive uma vida cristã com a razão e a lógica cristã, desta forma buscando raciocinar biblicamente como pressuposto de uma futura construção lógica das verdades e doutrinas cristãs.
 
            Seguindo o raciocinio vamos ver então que se deve usar a lógica para fundamentar a razão da nossa fé e cultuar o nosso Deus, conforme ensina o texto de romanos. Usando esse pressuposto se deve saber o que é lógica e como usar a mesma para fazer uma construção bem estruturada e raciocinada para a intelectualidade da fé cristã. Para isso usarei de forma resumida o que Norman Geisler e Peter Bocchinno falam sobre a lógica no livro “Fundamentos Inabaláveis”, no primeiro capítulo. Para se construir uma lógica, é necessário que se ache os primeiros principios, que serão considerados os fundamentos que não podem ser abalados, onde se construirá todo o conhecimento e a estrutura. Esse primeiros princípios para nós são as verdades e doutrinas bíblicas, a nossa cosmovisão. Outra regra para ser seguida é a lei da não-contradição (LNC), não se pode fazer uma afirmação e nessa afirmação haver uma outra contrária. Citando o mesmo exemplo deles, alguém afirma que não existe essa coisa chamada verdade, porém se não existe nada chamado verdade, isso implica que também não existe nenhuma afirmação verdadeira, portanto a própria afirmação de que não existe essa coisa chamada verdade não é verdadeira, logo o afirmador de tal frase se contradizeu. Então na construção lógica não pode haver tais contradições, que são conhecidas como falácias. Vamos ver como se constrói uma lógica e citaremos duas construções da mesma, sendo uma falaciosa e a outra válida. Primeiramente deve haver as premissas na lógica, que são chamadas de A e B, elas são os pressupostos que serão somadas para levar a conclusão. Depois deve haver uma conclusão que será a afirmação, ou o resultado final da soma das premissas. Enfim tem a validade, que determina se a lógica é válida ou falaciosa, essa validade irá avaliar tanto as duas premissas como a conclusão. Exemplo de uma lógica falaciosa:
 
Todos os cachorros têm quatro patas. (Premissa A)
Rex tem quatro patas. (Premissa B)
Portanto, Rex é um cachorro. (Conclusão)
 
Essa lógica é falaciosa, pois a conclusão é equivocada, porque Rex pode ser algum outro animal que tenha quatro patas como Gato, Raposa, Tigre, Leão e etc.
 
Agora veremos uma lógica válida:
 
Todos os cachorros têm quatro patas. (Premissa A)
Rex é um cachorro. (Premissa B)
Portanto, Rex tem quatro patas. (Conclusão)
            Comentei sobre a lógica ou silogismo como um pressuposto filosófico para a intelectualidade cristã. Porém existem outros exemplos na história dentro da nossa teologia, que os indivíduos usaram da razão para fundamentar a nossa fé, como por exemplo, a teologia natural (que também parte da lógica). Ela é tanto do campo da teologia como da filosofia da religião, e não faz uso dos meios das revelações especiais (as Escrituras e Cristo) e nem sobrenaturais, porém se limita a razão e a revelação geral (a criação). O expoente dessa teologia na religião cristã foi Tomás de Aquino (1225 – 1274), que escreveu em sua obra conhecida como Suma Teológica. Nessa obra ele usa o argumento cosmológico (raciocina de que se existe um efeito [o universo] deve ter havido uma causa [Deus] que foi a última causa de tudo, para ter tido esse efeito; pois todo efeito precisa primeiramente de uma causa), ontológico (raciocina a idéia de existir um Ser mais perfeito, idéia essa que o ser - humano tem) e teleológico (raciocina um objetivo para a Criação, que seria um propósito final). Além disso, ele usou as cinco vias argumentativas. Essas vias se resumem assim: Para saber que existe um Deus é só olhar para criação, que teve que ter um criador.
 
            Enfim, sempre devemos que usar a intelectualidade, a razão e a lógica para falarmos da nossa fé. Esse é um mandamento que se encontra em 1 Pe 3.15b: ...e estais preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós. Os desafios de responder a razão da nossa fé ainda não terminaram, vivemos em um mundo pós-moderno que tomou como legado do modernismo as exigências intelectuais para falar dos pressupostos, sejam eles físicos ou metafísicos. Talvez não seja tão exigente como o modernismo, mas continua sendo exigente. E para isso devemos que contextualizar a mensagem do evangelho de uma forma racional e intelectual para alcançar os indivíduos dessas “tribos intelectuais” dessa cultura global, que exigem tais questionamentos, como por exemplo, as defesas que William Lane Craig fez contra o livro do Richard Dawkins: Deus um delírio. Contudo, nunca devemos nos esquecer de um ensinamento elaborado por Agostinho de Hipona, que é conhecido como fideísmo, o qual ensina que a fé antecede a razão, isto é, o individuo para aceitar e compreender a lógica e a racionalidade das verdades e doutrinas bíblicas, primeiramente deve crer nas mesmas, senão sua compreensão e aceitabilidade será passageira, até aparecer outras dúvidas.


Gentilmente cedido para a SEARA URBANA

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