Maria José Duarte Osis
O que faz você feliz? Assim pergunta a propaganda na TV. E a lista de possíveis respostas evoca uma série de coisas das quais, certamente, muitos de nós gostamos, algumas pelas quais batalhamos no nosso dia-a- dia, coisas que se tornam, como se diz com freqüência, nosso “sonho de consumo”. De modo geral, é assim mesmo: felicidade é associada com aquilo que se tem, com aquilo que se conquista, com o que se ganha, com o que se pode comprar ou, pelo menos, com o que pode usufruir, com o que se pode alcançar. Seguindo essa linha de pensamento, percebe-se que, aparentemente, para alguns é muito fácil ser feliz - para aqueles que são bem sucedidos segundo os padrões de nossa sociedade. Ao mesmo tempo, também é bem fácil ser infeliz – basta não ter, não poder, não conseguir, perder. É muito comum, também, atribuir-se essa infelicidade a alguma deficiência pessoal do infeliz: falta de empenho, de capacidade, habilidade, esperteza. Enfim, a equação básica é esta: ter/ possuir/ganhar é igual a ser feliz. Soma-se a isso a idéia de que ser feliz também implica ser servido por outras pessoas, pedir e ser atendido, mandar e ser obedecido.
Porém, esse não foi o conceito de Jesus sobre o que é felicidade e o que é ser feliz! Jesus deixou claro a seus discípulos que não esperassem receber nenhum benefício por serem seus seguidores. Neste mundo, Ele não tinha onde “reclinar a cabeça”, e, antes de voltar ao céu avisou os discípulos de que teriam muitas aflições. Por outro lado, exortou-os a servirem uns aos outros, seguindo seu exemplo, que chegou ao ponto de dar a vida por nós. Para Jesus, a equação da felicidade é outra: ser feliz é igual a dar/doar/ servir a outras pessoas.
Essa perspectiva esteve presente com força entre os primeiros cristãos, conforme nos relatam o livro de Atos e as diversas cartas que fazem parte do Novo Testamento. Entre eles havia preocupação constante de suprir as necessidades uns dos outros. Parece, porém, que ao longo da história cristã isso foi se diluindo até chegar ao que hoje existe em muitas igrejas e outras instituições religiosas: um departamento de ação social. A esse departamento se atribui a responsabilidade de ajudar os necessitados, como se ela não fosse de todos os cristãos. Além disso, também é bastante freqüente a compreensão de que necessitados são apenas as pessoas que estão passando por dificuldades econômicas e que precisam receber uma cesta básica. Como se os desiludidos, desesperançados, deprimidos, mal amados, também não precisassem de ajuda.
Creio que os ensinamentos e a atitude de Jesus nos confrontam e nos estimulam a rever esses conceitos. Não significa que não se deva realizar ação social de forma organizada, mas creio que o que Jesus ensina é bem mais que isso. Ele nos ensina que servir uns aos outros deve ser um estilo de vida, na verdade deve ser o nosso estilo de vida como cristãos. Isso não é fácil! É muito difícil porque a perspectiva de que felizes são aqueles que são servidos e os que ganham, conquistam, possuem mais bens, prestígio, poder, é a que predomina em nossa sociedade e nos pressiona no mesmo sentido, fazendo com que também internalizemos o medo de perder o que temos, de nos contaminarmos com a infelicidade dos outros... Como romper com isso?
Creio que, como tudo que Jesus ensinou, para que possamos colocar em prática precisamos primeiramente nos identificar com Ele, Jesus, crer que Ele é quem afirmou ser e que tem poder para transformar o nosso viver, assim como tem poder para nos salvar da perdição eterna. A partir daí, vem o dia-a-dia, o desafio de viver cada dia buscando a orientação da Palavra de Deus acerca de como devemos proceder. Nas palavras do Apóstolo Paulo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12: 2).
Gentilmente escrito para a SEARA URBANA
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